1. Características do crioprecipitado
O crioprecipitado (CRIO) é uma fonte concentrada de algumas proteínas plasmáticas que são insolúveis à temperatura de 2°C a 6°C. O CRIO é preparado descongelando-se uma unidade de plasma fresco congelado à temperatura de 2°C a 6°C. Depois de descongelado, o plasma sobrenadante é removido, deixando-se na bolsa volume de 10-15 mL que contém as proteínas precipitadas. Este material é então recongelado em até 1 hora após a sua obtenção. Sua validade é de 1 ano, quando armazenado à temperatura de -20°C, ou de 2 anos, quando armazenado a -30°C. O crioprecipitado contém glicoproteínas de alto peso molecular como o fator VIII (80-150 U), fator de von Willebrand (100-150 U) , fibrinogênio (150-250 mg), Fator XIII (50-75 U) e fibronectina.
Para pacientes adultos não é necessária a seleção de crioprecipitado de mesmo tipo ABO devido ao pequeno volume de plasma no hemocomponente. Para a transfusão de crioprecipitado em crianças, deve haver compatibilidade entre o anticorpo do sistema ABO presente no plasma do doador e os antígenos presentes nas hemácias da criança.
2. Indicações
O CRIO é indicado para o tratamento de hipofibrinogenemia (fibrinogênio <100 mg/dL), disfibrogenemias ou na deficiência de fator XIII. A reposição dos fatores VIII, IX e Von Willebrand nas pessoas com hemofilia e doença de Von Willebrand deve ser feita apenas com concentrados de fator obtidos industrialmente, os quais são fornecidos gratuitamente pelo Ministério da Saúde. Assim, aplicação clínica do CRIO fica restrita a casos específicos e seletos. O CRIO não deve ser usado no tratamento de pacientes com deficiência de outros fatores que não sejam de fibrinogênio ou de Fator XIII. O CRIO está indicado nas situações abaixo:
a) Repor fibrinogênio em pacientes com hemorragia e déficits isolados congênitos ou adquiridos de fibrinogênio, quando não se dispuser do concentrado de fibrinogênio industrial purificado;
b) Repor fibrinogênio em pacientes com coagulação intravascular disseminada - CID e graves hipofibrinogenemias;
c) Repor Fator XIII em pacientes com hemorragias por déficits deste fator, quando não se dispuser do concentrado de Fator XIII industrial;
d) Repor Fator de Von Willebrand em pacientes que não tem indicação de DDAVP ou não respondem ao uso do DDAVP, quando não se dispuser de concentrados de fator de von Willebrand ou de concentrados de Fator VIII ricos em multímeros de von Willebrand;
e) Compor a fórmula da cola de fibrina autóloga para uso tópico.
3. Dose e administração
- Cada unidade aumenta o fibrinogênio em 5-10 mg/dL em um adulto médio, na ausência de grandes sangramentos ou de seu consumo excessivo.
- O nível hemostático do fibrinogênio é ≥100mg/dL.
- A dose habitualmente usada é de 1,0-1,5 unidades de crioprecipitado para cada 10kg de peso do paciente, com a intenção de atingir nível de fibrinogênio hemostático de 100mg/dL.
- A quantidade de crioprecipitado pode ser diminuída quando houver administração concomitante de concentrado de hemácias e/ou de plaquetas, porque estes produtos contêm 2-4 mg de fibrinogênio/mL, o que corresponde a 2 U de crioprecipitado.
- Antes da infusão, o crioprecipitado deve ser descongelado de 37°C no prazo de até 15 minutos e transfundido imediatamente. Se o produto descongelado não for utilizado imediatamente, poderá ser mantido por até 6 horas em temperatura ambiente (20-24°C) ou por até 4 horas quando o sistema for aberto ou realizado em pool.
- Os concentrados são infundidos por meio de filtro padrão de transfusão (170μ).