1. Características do concentrado de plaquetas
O concentrado de plaquetas (CP) pode ser obtido por centrifugação do sangue total, ou por aférese de um único doador. A unidade CP convencional produzida por centrifugação do sangue total doado deve conter pelo menos 5,5 x 1010 plaquetas e seu volume é de 40-70 mL. Essas unidades, conhecidas como “plaquetas randômicas”, são agrupadas em uma única bolsa formando um “pool de plaquetas”, que em geral corresponde a 6 unidades de CP obtidos por doação convencional. O CP obtido por aférese de um único doador deve conter número superior a 3,0 x 1011 plaquetas em um volume de 200-300 mL. Atualmente as plaquetas estão disponíveis no HCFMRP como pool de plaquetas ou como aférese de plaquetas, sendo excepcional o uso de unidades randômicas. O armazenamento do CP é mantido em temperatura ambiente (22 ± 2ºC) em leve agitação horizontal contínua. A validade do CP é de apenas 5 dias.
2. Indicações
A principal indicação clínica para a transfusão de plaquetas é o controle de sangramento secundário à plaquetopenia por diminuição da produção na medula óssea ou ainda nas plaquetopatias congênitas. Em pacientes com trombocitopenia e hemorragia ativa é em geral recomendada a transfusão para manter a contagem acima de 50.000/mm3. Para hemorragias oftalmológicas, cerebrais, pulmonares ou associadas à coagulação intravascular disseminada ou transfusão maciça, o nível pretendido é de 100.000/ mm3.
A transfusão profilática de plaquetas pode ser indicada para pacientes com contagens plaquetárias inferiores a 10.000- 20.000/mm3, ou inferiores a 30.000-50.000/mm3 antes de procedimento invasivo ou associadas a coagulação intravascular disseminada (CIVD).
Consulte a Tabela 1 para algumas condições específicas em neonatos e crianças.
3. Contraindicações
A transfusão de CP não está indicada para pacientes com plaquetopenia secundária à destruição periférica das plaquetas (hiperesplenismo, plaquetopenia imune, púrpura trombocitopênica trombótica), exceto para controlar hemorragia grave ou precedendo procedimentos invasivos. Estas condições clínicas requerem outro tipo de intervenção (ex: esplenectomia, corticoterapia, plasmaférese terapêutica, etc.).
4. Dose
- A dose é determinada pelo diagnóstico, pela situação clínica e pelo peso do paciente.
- Uma unidade de CP obtido por aférese (CPAF) ou 1 pool de 6 unidades de CP convencional equivalem a uma dose terapêutica em adultos.
- Em pacientes pediátricos, 5 a 10ml/Kg é suficiente para aumentar a contagem plaquetária em 50.000 a 100.000/mcl.
5. Modo de administração
Sugere-se que a transfusão do CP em pacientes estáveis sem hemorragia ativa seja prescrita em 30 minutos. O médico deve avaliar individualmente cada paciente quanto ao risco de sobrecarga volêmica. Na presença de fatores de risco, pode-se aumentar o tempo de infusão ou ainda prescrever diurético endovenoso no início da transfusão. Na presença de hemorragia e na transfusão maciça a transfusão é feita em pinça aberta.
6. Transfusão de plaquetas e compatibilidade ABO
Prefere-se transfundir CP do mesmo tipo ABO do receptor (ABO isogrupo), porém, na ausência deste hemocomponente, é possível realizar a transfusão de plaquetas ABO não idêntico. Em pacientes sem refratariedade plaquetária, opta-se por respeitar a compatibilidade plasmática ( escolher em ordem de preferência a plaqueta que não contenha anticorpos, ou contenha menos anticorpos contra os antígenos ABO do receptor). Nessa situação, portanto, a prioridade de escolha segue a Tabela 2. A agência transfusional do HCFMRP segue a ordem de preferência descrita na Tabela 2, considerando também a disponibilidade de cada tipo ABO em estoque.
7. Transfusão de plaquetas RhD positivo em paciente RhD negativo
Deve-se evitar a transfusão de CP RhD-positivo em pacientes RhD negativo do sexo feminino com idade inferior a 45 anos. Neste último caso, se as plaquetas transfundidas forem RhD-positivo e a paciente não possuir anticorpo anti-D (não é aloimunizada), deve-se administrar 300 µg de imunoglobulina anti-D intramuscular, até 72 horas após a transfusão. Em crianças pequenas do sexo feminino a dose pode ser reduzida para 150mcg. No caso de nova exposição à CP RhD positivo, a dose deve ser repetida apenas após 6 semanas, ou antes disso se o anticorpo passivo (anti-D da imunoglobulina) não for mais detectado na triagem de anticorpos irregulares.
8. Refratariedade à transfusão de plaquetas
Várias condições clínicas podem interferir com o rendimento transfusional plaquetário. O próprio sangramento ativo, CIVD, infecções, febre e esplenomegalia são causas não imunes de refratariedade à transfusão de plaquetas. O uso concomitante de algumas medicações como a anfotericina e a vancomicina também interferem no rendimento da transfusão, de modo que o horário da administração deve ser distante da transfusão. A refratariedade imune representa 20% dos casos de refratariedade e está associada na maior parte dos casos à aloimunização contra antígenos HLA classe I, expressos nas plaquetas. A refratariedade imune é mais comum em pacientes não imunossuprimidos e em mulheres multíparas. Na presença de refratariedade, as transfusões profiláticas devem ser evitadas. Havendo suspeita de refratariedade imune, o serviço de hemoterapia deve ser comunicado ( agência transfusional ou hemocentro) para orientação e, se possível, prosseguir com a investigação e busca por doadores compatíveis. Para maiores detalhes, ver protocolo específico.