Emergências Pediátricas - Avaliação Pediátrica

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- Delinear os conceitos básicos da impressão inicial, avaliação primária, avaliação secundária e avaliação diagnóstica.
- Descrever o princípio da avaliação sistematizada na emergência: avaliar, identificar e intervir.
- Padronizar o atendimento de emergências pediátricas, visando diminuir a morbimortalidade decorrente de eventos agudos ameaçadores à vida.

Alessandra Kimie Matsuno
Professora Colaboradora do Departamento de Puericultura e Pediatria da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo

Data da última alteração: sexta, 26 de abril de 2024
Data de validade da versão: domingo, 26 de abril de 2026

Princípio da Avaliação Pediátrica Sistematizada na Emergência:
Baseia-se no modelo: avaliar – identificar –intervir; depois de cada intervenção deve-se reavaliar o paciente para verificar a efetividade das ações realizadas (Figura 1).

Passos da Avaliação Sistematizada:
1º. Impressão inicial:
Consiste na avaliação visual e auditiva, realizada nos primeiros segundos de contato com o paciente. Deve-se avaliar e identificar problemas na circulação, aparência e respiração. Esta triagem é designada como triângulo da avaliação pediátrica (Figura 2):
Se na impressão inicial for identificada situação de emergência, leva-se o paciente à sala de emergência e inicia-se o próximo passo.
2º. Avaliação Primária:
A. Vias aéreas
B. Breathing ou boa respiração
C. Circulação
D. Disfunção
E. Exposição
Há duas abordagens possíveis: ABCDE ou CABDE. A escolha da abordagem baseia-se na identificação de parada cardíaca, que deve ser suspeitada quando o paciente está inconsciente e em apneia ou com respirações do tipo gasping (Figura 3).
ABCDE: Inicia-se pela avaliação, identificação e intervenção nas vias aéreas. Esta é abordagem de todas as situações de emergências clínicas e traumáticas em pediatria, com exceção da parada cardíaca.
CABDE: Inicia-se pela avaliação, identificação e intervenção na circulação, checando o pulso central e, se ausente, inicia-se a massagem cardíaca.

A. Vias Aéreas
Avaliação:
• Movimentação do tórax e do abdome
• Sons respiratórios
• Passagem de ar pelo nariz e pela boca

Identificação:
• Vias aéreas pérvias: não necessitam de intervenção.
• Vias aéreas sustentáveis: necessitam de manobras simples.
• Vias aéreas não sustentáveis: necessitam de intervenções mais invasivas.

Intervenção:
Intervenções simples:
• Posicionamento confortável e adequado da criança, visando melhorar a permeabilidade das vias aéreas. Nas crianças menores de 2 anos pode-se colocar um coxim debaixo dos ombros e em crianças maiores, debaixo do occipício.
• Uso de manobras para abrir as vias aéreas, como a inclinação da cabeça com elevação do queixo, quando não houver suspeita de lesão de coluna cervical. Havendo suspeita de lesão de coluna, a manobra será a elevação da mandíbula, sem a extensão do pescoço; se esta manobra não for suficiente para abrir as vias aéreas, deve-se tentar a inclinação da cabeça com elevação do queixo, mesmo se houver lesão da coluna, já que a prioridade é a abertura das vias aéreas.
• Aspiração do nariz e da orofaringe.
• Realização de técnica de alívio de obstrução das vias aéreas por corpo estranho, em pacientes conscientes.
• Uso de cânula nasofaríngea (pacientes conscientes) ou orofaríngea (pacientes inconscientes).
Intervenções avançadas:
• Uso de dispositivos de pressão positiva nas vias aéreas (p. ex., bolsa-valva e máscara).
• Intubação traqueal.
• Uso de máscara laríngea.
• Cricotireoidotomia.

B. Breathing ou Boa Respiração
Avaliação:
• Frequência respiratória
• Esforço respiratório
• Volume corrente
• Sons pulmonares e das vias aéreas
• Oximetria de pulso

Identificação:
Quanto à gravidade:
• Desconforto respiratório (fase inicial)
• Insuficiência respiratória
Quanto ao tipo:
• Obstrução alta: presença de estridor, tempo inspiratório aumentado e sibilos inspiratórios, retrações de fúrcula e gargarejos As causas incluem aspiração de corpo estranho, infecções (laringite e epiglotite), anomalias congênitas das vias aéreas (laringomalácia) e edema de vias aéreas superiores secundário a reações alérgicas ou trauma.
• Obstrução baixa: presença de esforço expiratório, tempo expiratório aumentado, sibilos expiratórios. As causas mais comuns são asma e bronquiolite.
• Doença do parênquima: presença de gemidos expiratórios e estertores. As causas incluem pneumonia, contusão pulmonar, atelectasias, edema pulmonar, síndrome do desconforto respiratório agudo e doença da membrana hialina.
• Distúrbio do sistema nervoso central: volume minuto baixo decorrente da diminuição da frequência respiratória ou do volume corrente. As causas incluem infecções e depressão do sistema nervoso central por drogas.

Intervenção:
Drive respiratório adequado (com desconforto respiratório ou hipoxemia, mas a ventilação, ou seja, a troca de CO2 está mantida):
• Fornecer oxigênio, inicialmente a 100%, por meio de dispositivos de alto fluxo (máscara não reinalante).
Drive respiratório inadequado (problemas na oxigenação e na ventilação):
• Fornecer suporte ventilatório (invasivo ou não invasivo), além de oxigênio.
Realizar sempre o tratamento da causa subjacente.

C. Circulação
Avaliação:
• Temperatura e cor da pele
• Frequência e ritmo cardíaco
• Pressão arterial
• Pulsos
• Tempo de enchimento capilar
• Perfusão de órgãos-alvo

Identificação:
Quando à gravidade:
• Choque compensado: há sinais de má perfusão tecidual, mas com pressão arterial normal.
• Choque descompensado: além dos sinais de má perfusão, há hipotensão.

Intervenção:
• Fornecer O2, inicialmente a 100%.
• Adequar a volemia, a pressão arterial e o débito cardíaco: inicialmente, adequar a pré-carga com bolus de cristaloide, com reavaliações após cada expansão de volume, para verificar o desaparecimento dos sinais de choque ou surgimento de sinais de sobrecarga hídrica (hepatomegalia e estertores pulmonares). Após a adequação da volemia, podem ser necessários inotrópicos e/ou vasopressores para normalização do débito cardíaco e da pressão arterial.

D. Disfunção
Avaliação:
• Nível de consciência pela escala de resposta pediátrica (AVDN) (Tabela 1) ou escala de coma de Glasgow (Tabela 2).
• Exame das pupilas (diâmetro, simetria e reação à luz). O acrônimo PERRL (Pupilas de tamanho Equivalente, Redondas e Reativas à Luz) descreve as características pupilares normais.

Identificação:
• Sinais de depressão do nível de consciência
• Sinais de hipertensão intracraniana

Intervenção:
• Melhorar a oxigenação e a circulação
• Tratar a causa de base.

E. Exposição
Avaliação:
• Despir a criança para facilitar o exame físico dirigido.
• Medidas para aquecimento do paciente, caso se detecte hipotermia significativa.

Identificação:
• Evidências de trauma, como sangramentos e queimaduras ou marcas incomuns, sugestivas de maus-tratos.
• Lesões sugestivas de infecção grave, como petéquias, equimoses e púrpura.

Intervenção:
Tratar as causas de base e os sintomas.

3º. Avaliação Secundária
História rápida (uso da regra mnemônica SAMPLE) (Tabela 3) e exame físico dirigido.

4º. Avaliação Terciária ou Diagnóstica
Realização de exames auxiliares que visam identificar a presença e a gravidade das anormalidades respiratórias e circulatórias. O termo terciário não significa que esses exames serão colhidos em terceiro lugar; o momento de realizar os exames será ditado pela condição clínica do paciente.

1. AMERICAN HEART ASSOCIATION. PALS – Pediatric Advanced Life Support – Provider Manual, 2002.
2. AMERICAN HEART ASSOCIATION. PALS – Pediatric Advanced Life Support – Provider Manual, 2006.
3. AMERICAN HEART ASSOCIATION. PALS – Pediatric Advanced Life Support – Provider Manual, 2010.
4. AMERICAN HEART ASSOCIATION. PALS – Pediatric Advanced Life Support – Provider Manual, 2015.
5. DIECKMANN, R.A.; BROWNSTEIN, D.; GAUSCHE-HILL, M. The pediatric assessment triangle: a novel approach for the rapid evaluation of children. Pediatric Emergency Care 2010;26:312-315.
6. HOLMES, J.F. et al. Performance of the pediatric glasgow coma scale in children with blunt head trauma. Academic Emergency Medicine 2005;12:814-819.
7. RALSTON, M.E.; ZARITSKY, A. L. New opportunity to improve pediatric emergency preparedness: pediatric emergency assessment, recognition, and stabilization course. Pediatrics 2009;123:578-580.
8. SARTI, A. et al. Comparison of three sites to check the pulse and count heart rate in hypotensive infants. Paediatric Anaesthesia 2006;16:394-398.
9. THOMPSON, M. et al. How well do vital signs identify children with serious infections in paediatric emergency care? Archives of Disease in Childhood 2009;94:888-893.

Tabela 1: Tabela 1


Tabela 1

Tabela 2: Tabela 2


Tabela 2

Tabela 3: Tabela 3


Tabela 3

Figura 1: Figura 1

Princípio da avaliação pediátrica na emergência: modelo avaliar, identificar e intervir, com reavaliações após as intervenções, para verific
Figura 1

Figura 2: Figura 2

Ilustração da impressão inicial – o triângulo da avaliação pediátrica. TICOF: tônus, interatividade, consolabilidade, olhar, fala/choro.
Figura 2

Figura 3: Figura 3

Abordagem ABCDE vs. CABDE.
Figura 3