Emergências Clínicas - Púrpura Trombocitopênica Imune (PTI) na Sala de Urgência

Área: Unidade de Emergência / Subárea: Clínica Médica

Abordagem do diagnóstica e tratamento da PTI na sala de urgência

Flávia Leite Souza Santos. Médica Assistente da Divisão de Hematologia e Hemoterapia do Departamento de Clínica Médica da FMRP/USP
Leonardo Carvalho Palma. Médico Assistente da Divisão de Hematologia e Hemoterapia do Departamento de Clínica Médica da FMRP/USP

Data da última alteração: terça, 06 de dezembro de 2022
Data de validade da versão: sexta, 06 de dezembro de 2024

- Desordem adquirida caracterizada pela perda da tolerância do sistema imune às glicoproteínas expressas nas plaquetas e nos megacariócitos, os quais tornam-se alvo de anticorpos da classe IgG e por este motivo, são destruídos no sistema retículo-endotelial.

2- Quadro Clínico e/ou Diagnóstico:
- Quadro clínico
o O sintoma mais comum é o sangramento, especialmente, os mucocutâneos (pele, cavidade oral, nasal, vaginal, etc).
o No exame físico, a depender da contagem de plaquetas, é comum se observar a presença de petéquias, especialmente, nos membros inferiores.

o 2 critérios diagnósticos obrigatórios:
• Plaquetopenia isolada (<100.000), com plaquetas de tamanho normal ou aumentado. Contagem das demais séries e análise de sangue periférico são completamente normais (exceto se outra alteração associada, como, por exemplo, deficiência de ferro ou anemia secundária ao sangramento).
• É diagnóstico de exclusão e requer que outras causas de plaquetopenia sejam excluídas, tais como plaquetopenias congênitas, hiperesplenismo (atentar a estigmas de hepatopatia), doenças primárias da medula óssea, uso de medicações, dentre outros.
o É classificada em forma primária, quando não há causa subjacente identificada , ou secundária quando associada a doenças autoimunes, infeções virais (HIV , HCV, CMV, Varicela), H.pylori vacinas e medicamentos.

o Hemograma completo com a visualização do sangue periférico, contagem de reticulócitos, tipagem ABO e Rh, Coombs direto, função hepática, TSH, FAN, fator reumatoide, anti-cardiolipina, anti-beta2glicoproteína, pesquisa do inibidor lúpico, pesquisa da infecção pelo Helicobacter pylori e sorologias para HIV, HBV e HCV.
o Dosagem de imunoglobulinas (IgA, IgG e IgM) em pacientes com menos de 20 anos.
o O mielograma, nos casos típicos, não é obrigatório. No entanto, no HCFMRP-USP, este exame deve ser realizado em todos os casos antes do início da corticoterapia com o objetivo principal de se descartar a possibilidade de leucemia aguda, especialmente, a leucemia linfoide aguda.

- 4.1- Abordagem terapêutica inicial

o O objetivo do tratamento da PTI não é normalizar o número de plaquetas, mas obter uma contagem suficiente para manter a hemostasia adequada. Normalmente, o tratamento está indicado em contagens de plaquetas abaixo de 30.000 /mm3, pois acima desse valor são raros os eventos graves. Atenção deve ser dada aos pacientes ≥ 60 anos, pois neste grupo, a frequência de sangramento do sistema nervoso central é maior. Pacientes com alto risco de sangramento e gestantes próximas ao termo podem ser tratados com contagens de plaquetas abaixo de 50.000/mm3. Raramente, será necessário o tratamento em contagens plaquetárias acima de 50.000/mm3.
o O tratamento baseia-se na imunossupressão com os glicocorticoides (prednisona 1 mg/kg ou equivalente), sendo que a resposta ocorre em aproximadamente 2 semanas. Esta dose deve ser mantida por pelo menos 6 semanas, sendo que a partir deste ponto, é iniciada uma redução lenta e progressiva com acompanhamento ambulatorial do hemograma.
o Nos sangramentos graves (hemorragia digestiva, sangramentos no sistema nervoso central, etc), é necessária a elevação mais rápida do número de plaquetas. Nestes casos, a adição da infusão da imunoglobulina humana (IVIG) na dose de 1 g/kg/dia por 1 a 2 dias (caso haja resposta no primeiro dia, não é necessária a repetição no segundo dia) à corticoterapia é mandatória. A transfusão de plaquetas após a infusão da IVIG também pode ser indicada nos casos muito graves.
o A imunoglobulina anti-D na dose de 50 mcg/kg pode ser utilizada como uma alternativa a IVIG em pacientes Rh positivos, ainda, não esplenectomizados e que suportem uma queda da hemoglobina em consequência à hemólise.
o Nos casos de PTI secundária, especialmente, aqueles associados à infecção pelo HIV, pelo HBV, pelo HCV e pelo Helicobacter pylori, o tratamento da doença de base pode ser utilizado em conjunto à imunossupressão. Ademais, nos casos de baixo risco de sangramento, pode-se optar pelo tratamento da doença de base antes do início da corticoterapia.


- 4.1- Tratamento da PTI refratária e da PTI corticodependente
o Nos casos de PTI que não respondem aos glicocorticoides (PTI refratária) e de PTI dependente do uso dos glicocorticoides (PTI corticodependente), a esplenectomia é o tratamento padrão. Todos os pacientes que irão ser submetidos a esplenectomia devem ser vacinados para Neisseria meningitidis, Streptococcus pneumoniae e Haemophilus influenzae pelo menos 2 semanas antes do procedimento.
o Uma opção a esplenectomia é a terapia com o rituximabe (anti-CD20).
o Outros imunossupressores, tais como a azatioprina, a ciclofosfamida, a ciclosporina, dentre outros, podem ser utilizados nos casos refratários a esplenectomia e/ou ao rituximabe. No entanto, as taxas de resposta a estas drogas é baixa.
o Recentemente, tem-se utilizado os agonistas do receptor da trombopoetina (Romiplostim e Eltrombopag) em pacientes com PTI pós-esplenectomia recaídos/refratários com bons resultados.

1.Gaurav Kistangari, Keith R. McCrae - Immune Thrombocytopenia. Hematol Oncol Clin North Am. 2013 Jun;27(3):495-520.
2.Terry Gernsheimer, Andra H. James, Roberto Stasi - How I treat thrombocytopenia in pregnancy. Blood. 2013 Jan 3;121(1):38-47

Fluxograma 1: Tratamento da PTI na sala de urgência


Tratamento da PTI na sala de urgência