1) Neurotoxoplasmose:
É a principal causa de lesão com efeito de massa no SNC, cerca de 50-70% dos casos. O quadro clínico geralmente é subagudo com duração de 2 a 3 semanas.
É uma infecção que ocorre geralmente em pacientes com contagem de linfócitos T CD4 baixa, sendo <100 células/mm³ em cerca de 80% dos casos. Assim sendo, em caso de lesões centrais com efeito de massa em pacientes imunocompetentes outras etiologias deverão ser investigadas como, por exemplo, o glioblastoma e metástases. O agente etiológico da neurotoxoplasmose é o protozoário Toxoplasma gondii e as principais manifestações clínicas são:
• Alteração do sensório – 50-90%
• Hemiparesia e outros sinais focais – 60%
• Cefaléia – 50%
• Convulsões – 30%
• Acidentes vasculares cerebrais – 30%
• Sinais de irritação meníngea – <10%
• Febre, confusão mental e coma podem estar presentes
2) Neurocriptococose:
O agente etiológico é a levedura encapsulada Cryptococcus neoformans. É o principal agente oportunista causador de meningite no paciente com AIDS. Acomete indivíduos com contagem de linfócitos T CD4 <100 células/mm³. O quadro clínico também é subagudo, sendo os principais sinais e sintomas:
• Febre e cefaléia* – 75%
• Alterações de sensório, pares cranianos, visuais – 15-20%
• Convulsões – 15-20%
• Sintomas focais - <5%
• Lesões extraneurais (pulmão, baço, fígado, medula óssea, gânglios) – 20-60%
• Náuseas, vômitos*, mal estar geral
• Rigidez de nuca é vista em menos de 1/3 dos casos
*geralmente a cefaléia é muito intensa, com náuseas e vômitos indicando aumento importante da pressão intracraniana, evidenciada pela alta pressão de abertura na punção do líquido céfalo-raquidiano (LCR).
3) Encefalite por Citomegalovírus (CMV):
A infecção pelo CMV (citomegalovírus) atinge pouco mais de 0,5% dos pacientes com AIDS, principalmente aqueles com linfócitos T CD4 <100 células/mm³. A doença neurológica por CMV compreende um espectro distinto de manifestações, sendo elas demência, encefalite e poliradiculomielopatia ascendente.
A encefalopatia por CMV compreende uma urgência infecciosa e se apresenta com delírio, alterações dos pares cranianos, ataxia e nistagmo. A evolução é relativamente rápida (poucas semanas). Recomenda-se a investigação oftalmológica complementar, visto que o CMV com freqüência ocasiona retinites agressivas.
4) Retinite por CMV:
A infecção pode ser assintomática ou cursar com alterações visuais como escotomas, moscas volantes, diminuição do campo visual ou da acuidade visual. Sua incidência é maior nos pacientes com imunodepressão grave (T CD4 <50 células/mm³).
5) Outras infecções oportunistas no SNC com manifestação mais arrastada:
5.1) Leucoencefalopaita multifocal progressiva (LEMP):
Causada pelo vírus JC (papovavírus). Atinge cerca de 4% dos pacientes AIDS, especialmente aqueles com linfócitos T CD4 <100 células/mm³. Doença insidiosa, com sinais e sintomas de comprometimento límbico, ataxia e distúrbios visuais. Não há febre e o nível de consciência está preservado. O exame de líquor (LCR) é inespecífico e o diagnóstico geralmente é firmado por Ressonância Nuclear Magnética (RNM), que revela múltiplas lesões hipodensas, não-captantes de contraste, na substância branca subcortical, sem efeito de massa e margens mal definidas. A biópsia cerebral é o método definitivo, mas nem sempre é necessário. É um quadro com pouca resposta ao tratamento, evoluindo para óbito em cerca de seis meses do diagnóstico. Esquemas terapêuticos mais comuns usam a Citosina Arabinosídeo (Ara-C) ou o Cidofovir.
5.2) Linfoma Primário do SNC:
Ocorre quase que exclusivamente em indivíduos intensamente imunocomprometidos (T CD4 <50 células/mm³), portanto guarda relação íntima com a infecção pelo HIV. Os sinais e sintomas mais comuns são confusão, letargia e perda de memória, mas também pode se apresentar com cefaléia, afasia e hemiparesia. É um importante diagnóstico diferencial com a neurotoxoplasmose, pois ambas apresentam efeitos de massa e imagens bastante semelhantes na Tomografia Computadorizada (CT) de crânio. Uma lesão grande e única deve levantar suspeita diagnóstica. O tratamento é pouco satisfatório, com sobrevida média de 2 a 5 meses e a radioterapia cerebral, associada ou não a esquemas quimioterápicos (CHOP, EPOCH, m-BACOD), é o tratamento de escolha.
5.3) Complexo de Demência Relacionado à AIDS (Encefalopatia pelo HIV):
Caracteriza-se por disfunção cognitiva, de evolução subaguda, associada à dificuldade de concentração, esquecimento, irritabilidade nas fases iniciais e demência global na fase crônica. Também são comuns tremores, desequilíbrio, ataxia, hipertonia, hiperreflexia, nistagmo e comprometimento dos esfíncteres. Com a introdução de novos esquemas terapêuticos a incidência da doença está diminuindo. O tratamento baseia-se no controle da própria infecção pelo HIV, com ajuste ou aumento da terapia anti retroviral.