Emergências Clínicas - Transfusão na Emergência: Plaquetas

Área: Unidade de Emergência / Subárea: Clínica Médica

Flávia Leite Souza Santos. Médica Hematologista e Hemoterapeuta do Hemocentro de Ribeirão Preto/ FMRP/USP

Data da última alteração: terça, 06 de dezembro de 2022
Data de validade da versão: sexta, 06 de dezembro de 2024

Transfusão de Plaquetas
A transfusão de plaquetas é normalmente indicada para pacientes com falha na produção medular decorrente de quimioterapia ou da doença de base. Outra indicação menos frequente são as plaquetopatias hereditárias. Existem duas modalidades para a transfusão de plaquetas. A transfusão profilática é realizada para evitar hemorragias em pacientes com contagens muitos baixas, com fatores de risco ou pré-procedimentos invasivos, enquanto a transfusão terapêutica é prescrita para controlar sangramentos ativos. Para consultar a dose e gatilhos para transfusão de plaquetas, consulte as tabelas em anexo.

Situações particulares:
1. Hiperesplenismo
Pacientes com hiperesplenismo, como cirróticos, não devem receber transfusão profilática pois as plaquetas transfundidas também serão sequestradas no baço e o incremento plaquetário pós-transfusional é baixo ou ausente. A transfusão deve ser reservada para os casos com sangramento ativo e pré-procedimento invasivo. Nesse caso, a plaqueta deverá ser infundida o mais próximo do procedimento e deve ser feita reserva de outra dose para o intra-operatório, no caso de haver sangramento excessivo.

2. Trombocitopenia Imune Primária
A transfusão de plaquetas não é efetiva devido a refratariedade imune. Só deve ser considerada em pacientes com hemorragia grave, como sangramento do sistema nervoso central, preferencialmente associada ao uso de imunoglobulina (vide protocolo de PTI).

3. Púrpura Trombocitopênica Trombótica (PTT)
Havendo suspeita de PTT, a transfusão de plaquetas está contraindicada e pode agravar o quadro. Deve ser considerada apenas em casos extremos com sangramento ativo.

Refratariedade à transfusão de plaquetas

A refratariedade à transfusão de plaquetas caracteriza-se por um inadequado incremento plaquetário após a transfusão. Havendo suspeita de refratariedade ( vide causas em quadro anexo) , a confirmação é feita pelo incremento inadequado em pelo menos duas ocasiões diferentes após a transfusão de plaquetas ABO idênticas. O cálculo do incremento corrigido de plaquetas (ICP) segue abaixo:
ICP (incremento corrigido de plaquetas)= (Plaq pós-transf. – Plaq.pré-transf.) x superfície corporal (m2) / Número de plaquetas transfundidas (x 1011)

A transfusão é considerada eficiente quando o ICP obtido após 15 minutos a uma hora for superior a 7.500-10.000/mm3 e após 18 a 24 horas, superior a 4500/mm3. Valores inferiores sugerem refratariedade, que pode decorrer de fatores imunes e não imunes, sendo os últimos bastante frequentes entre os pacientes em estado crítico internados em unidades de terapia intensiva .

Condutas nos casos de refratariedade à transfusão de plaquetas:
1)Utilizar preferencialmente plaquetas ABO-idêntico.
2)Se disponível, utilizar plaquetas randômicas (pool de plaquetas)
3)Quando possível, priorizar utilização de plaquetas com menos de 48 horas de estocagem.
4)Nos pacientes em uso de Anfotericina B, fazer um intervalo de 2 horas entre a infusão do medicamento e a transfusão e vice-versa.
5) Considerar aumento da dose de plaquetas se sangramento ativo.

Se apesar destas medidas as transfusões continuarem sendo ineficazes, suspender as transfusões profiláticas e transfundir apenas na presença de hemorragia. Na refratariedade imune, em casos específicos e normalmente de forma eletiva, é possível selecionar doadores com fenótipo HLA compatível ou plaquetas com prova cruzada negativa, ou ainda negativa para outro antígeno envolvido na refratariedade.

Transfusão de Plaqueta Rh positiva em paciente Rh negativo
Não é raro o médico se deparar com situações em que não haverá plaquetas RhD negativas disponíveis para paciente RhD negativo. A presença de sangramento ativo ou risco aumentado de sangramento justifica o uso de plaquetas Rh positivas. Nessas situações existe o risco de aloimunização dos pacientes pelo antígeno RhD das hemácias residuais no CP, que seria mais prejudicial para mulheres em idade fértil. Portanto, mulheres ≤ 45anos RhD negativas e ainda não aloimunizadas contra o antígeno D que forem expostas à hemocomponentes RhD positivos (exceto plasma ou crioprecipitado) deverão receber a profilaxia com imunoglobulina Anti-D até 72 horas após a transfusão. A profilaxia em homens e mulheres mais velhas não é obrigatória, mas pode ser indicada pelo médico.

1.Covas DT, Ubiali EMA, De Santis GC. Manual de Medicina Transfusional, 2a Ed. São Paulo: Atheneu, 2014.
2. A No-Prophylaxis Platelet-Transfusion Strategy for Hematologic Cancers. NEJM, 2013.368 ;19 1772-1780

Tabela 1: Dose para transfusão de plaquetas


Dose para transfusão de plaquetas

Tabela 2: Gatilhos sugeridos para transfusão de plaquetas


Gatilhos sugeridos para transfusão de plaquetas

Tabela 3: Causas de refratariedade plaquetária


Causas de refratariedade plaquetária