Emergências Clínicas - Síndrome Coronariana Aguda sem Supradesnivelamento do Segmento ST

Área: Unidade de Emergência / Subárea: Clínica Médica

Definir a abordagem e tratamento inicial dos pacientes com suspeita de síndrome coronariana aguda sem supradesnivelamento do segmento ST na sala de urgência

Fabio Therezo Galliano. Médico residente de Clínica Médica - Departamento de Clínica Médica - FMRP - USP
Carlos Henrique Miranda. Docente da Divisão de Emergências Clínicas do Departamento de Clínica Médica - FMRP -USP

Data da última alteração: terça, 06 de dezembro de 2022
Data de validade da versão: sexta, 06 de dezembro de 2024

Doença de alta prevalência na atualidade. Caracteriza-se por instabilização de uma placa aterosclerótica na artéria coronariana e consequente formação de trombo adjacente podendo se manifestar através de uma quadro de síndrome coronariana aguda com supradesnivelamento do segmento ST (vide protocolo específico) ou sem supradesnivelamento do segmento ST, objetivo do atual protocolo

Diagnóstico:

• Dor precordial/retroesternal com duração de pelo menos 20 minutos no repouso
• Dor precordial de inicio recente (menos que 01 mês)
• Dor precordial inédita para realização de atividades leves a moderadas
• Piora da classe funcional da angina estável

ATENÇÃO - UTILIZAÇÃO DE ESCORES DE RISCO
1 - Os escores de risco incluídos neste protocolo (TIMI, GRACE e BRAUNWALD) podem ter divergências em casos específicos.
2 - No entanto, está comprovado que sua utilização aumenta a acurácia diagnóstica e o prognóstico dos pacientes, indicando sua utilização.
3 - Todos devem ser calculados e anotados no prontuário. A conduta deve ser tomada com base no pior dos escores calculados.

ATENÇÃO: Pacientes idosos, mulheres, diabéticos, doentes reanais crônicos podem apresentar manifestações atípicas.

Fatores de risco associados ao desenvolvimento de SCA:
• Tabagismo
• Dislipidemia
• Historia Familiar Positiva
• Idade avançada
• Cardiomiopatia / Aterosclerose
• Sexo Masculino
• Diabetes Melitus / Doença Renal Crônica

Buscar ativamente fatores que podem precipitar ou piorar a SCA: anemia, tireoideopatias, febre/infecção/inflamação, desordens metabólicas.

Exame físico: extremamente direcionado, devendo-se realizar ausculta cardiopulmonar, aferir pressão arterial e palpação de pulsos arteriais periféricos.

Critérios Diagnósticos de IAM SSST:

O diagnóstico de IAM sem supradesnivelamento do segmento ST será realizado com a elevação de troponina I acima do percentil 99* associado a pelo menos mais um critério a seguir:
- dor torácica anginosa
- alteração eletrocardiográfica compatível (supradesnivelmento ST transitório, infradesnivelamento do segmento ST, inversão de onda T, nova onda Q patológica).
- alteração nova de mobilidade no ecocardiograma ou novo defeito de perfusão na cintilografia miocárdica.
* Este valor de corte pode variar de acordo com o kit utilizado para dosagem de troponina. Em nosso hospital esta valor é 0,01.

Eletrocardiograma (ECG):
Deve ser obtido um ECG de 12 derivações em ate 10 minutos após a chegada do paciente ao serviço de emergência. O ECG de ser repetido a cada 15 minutos na primeira hora e depois de 6 em 6 horas nas primeiras 24 horas ou sempre que o paciente recorrer dor ou apresentar novos sintomas relacionados.
Devem ser realizadas de rotina as 12 derivações e ainda V7, V8 e V3R, V4R.
Atentar para as seguintes alterações:
• Depressão do segmento ST em 0,5 mm (0,5 mV) ou mais em pelo menos 02 derivações contíguas.
• Inversão dinâmica da onda T.
• Elevação transitória ST em 0,5 mm ou mais, com duração menor que 20 minutos.

Observação: O ECG NORMAL NÃO EXCLUI O DIAGNÓSTICO DE SCA

Exames bioquímicos e de imagem
• Marcadores de necrose miocárdica (CK-MB de 6/6 horas nas primeiras 24 horas, troponina I (preferencialmente) uma dosagem após 10-12 horas do início da dor.
• Glicemia, eletrólitos, função renal, hemograma, TP, TTPA, lipidograma
• Radiografia de tórax (PA+ perfil).
• Ecocardiograma transtorácico - indicado quando houver dúvida diagnóstica com outras condições clínicas concomitantes como derrame pericárdio ou dissecção de aorta ou quando houver alterações eletrocardiográficas que dificultem a interpretação, como Bloqueio de Ramo Esquerdo). A indicação deste exame deve ser discutida com o contratado e com o residente da Cardiologia de plantão.

- Em se caracterizando IAM ou Angina Instável, todo paciente deverá receber:
• Acesso venoso periférico calibroso - É CONTRA-INDICADO O ACESSO VENOSO CENTRAL PELA PERSPECTIVA DE TROMBÓLISE QUÍMICA!
• Oxigênio a baixo fluxo (1-2 l/min por cateter nasal) se saturação arterial < 90% ou sinais de insuficiência respiratória.
• Leito monitorizado (principalmente para pacientes de alto risco).
• Glicosimetria capilar a cada 6 horas nas primeiras 24hs e alvo de glicemia < 180mg/dL
• Ácido Acetil Salicílico via oral - 300mg de ataque e posteriormente 100 mg diários para serem mastigados
• Clopidogrel via oral - 300mg de ataque e posteriormente 75 mg diários. A dose de ataque de clopidogrel poderá ser 600 mg nos pacientes que serão submetidos precocemente ao cateterismo cardíaco).
• O clopidogrel poderá ser substituído pelo ticagrelor dose de ataque: 180 mg seguido por 90 mg de 12/12 horas.
• Morfina 3 a 5 mg a cada 10 minutos para alívio da dor.
• Nitrato sublingual 5 mg a cada 10-15 minutos até alívio dos sintomas (dose máxima de 15 mg).


ATENTAR PARA AS CONTRAINDICAÇÕES DO NITRATO (hipotensão, supradesnivelamento do segmento ST em V3R ou V4R, uso de sildenafila nas últimas 24 horas).


PARA RISCOS INTERMEDIÁRIO / ALTO:
• Heparinização plena
• Preferencialmente: enoxaparina 1mg/kg 12 em 12 horas até a alta hospitalar, tratamento angiográfico da lesão culpada ou por 01 semana (o que ocorrer antes).

Obs.: Em pessoas com mais de 75 anos, a dose é 0,75 mg/kg 12/12hs.
Quando Clearance de Creatinina <30, a dose é de 1mg/kg 1 x ao dia.
Se clerance de creatinina <10 ml/min ou piora progressiva da função renal ou peso corporal > 144 kg devemos utilizar
Heparina-não fracionada (HNF): Bolus 60–70 IU/kg (máximo 4000 UI) seguida de infusão continua de 12 UI/kg/h (máximo 1000 IU/h) com medidas do TTPA a cada 6 horas e alvo de manter o ratio entre 1.5-2.5 o controle.
(Para ajuste da HNF vide protocolo de heparinização).
• Tentar iniciar estatina (sinvastatina 40 mg/dia ou atorvastatina 40 mg/dia), betabloqueador, iECA ou BRA nas primeiras 24 horas, desde que o paciente não apresente nenhuma contraindicação.

1. BRAUNWALD, E. Tratado de Doenças Cardiovasculares.7.a edição. Rio de Janeiro: Elsevier, 2006
2. Diretriz Brasileira de Angina instável e IAM sem supradesnivelamento do segmento ST. Arquivos Brasileiros de Cardiologia – www.cardiol.com.br
3. MARIN-NETO JA; MACIEL BC; PAZIN FILHO A & CASTRO RBP. Condutas de urgência nas síndromes isquêmicas miocárdicas instáveis. Medicina, Ribeirão Preto, 36: 187-199, abr./dez. 2003
4. ESC Guidelines for the management of acute coronary syndromes in patients presenting without persistent ST-segment elevation

Tabela 1: Escore de TIMI para classificação de risco na SCA

O escore de TIMI é um dos mais utilizados devido a sua praticidade na aplicação na sala de urgência. A sociedade européia de cardiologia rec
Escore de TIMI para classificação de risco na SCA

Tabela 2: Escore de BRAUNWALD para classificação de risco na SCA


Escore de BRAUNWALD para classificação de risco na SCA

Tabela 3: Escore de GRACE para classificação de risco na SCA


Escore de GRACE para classificação de risco na SCA

Fluxograma 1: Abordagem sistemática de pacientes com suspeita de síndrome coronariana aguda na sala de urgência


Abordagem sistemática de pacientes com suspeita de síndrome coronariana aguda na sala de urgência

1 - A UCO da UE deve ser solicitada a avaliar o paciente mesmo que não se considere internação ou não haja vaga na unidade.
2 - A avaliação desta equipe deve constar no prontuário do paciente
3 - A alta do paciente deve ser de comum acordo entre os contratados da urgência e da UCO.